É com esta provocativa questão que um documentário recentemente lançado analisa o sistema educacional finlandês, o mais “surpreendente do mundo”, como diz seu subtítulo. Segue uma apresentação do mesmo (fonte):,
Na Finlândia as crianças entram na escola um ano mais tarde do que na maioria dos países (aos 7 anos), e costumam gastar no máximo meia hora por dia com lições de casa ”“ em um país como os EUA, a média chega a quatro horas por dia. Os professores precisam de pelo menos sete anos para se graduar, e a profissão por lá é bem mais valorizada (inclusive em termos de salário) do que no resto do mundo.
Essa é a realidade mostrada no filme The Finland Phenomenon, do renomado documentarista Robert Compton, que mostra como por lá a equação menos tempo na escola + baixo número de avaliações resultou em uma excelente qualidade de aprendizado ”“ a Finlândia está em primeiro lugar em diversos rankings mundiais de pesquisa e avaliação de ensino. Na receita da nação entram ainda a ênfase na confiança e na criatividade dos alunos, a preparação exaustiva dos professores, a implementação de políticas de ensino criadas localmente e o comprometimento nacional com a qualidade da educação.
Assista abaixo ao trailer do filme:
Mas mesmo sem assistir ao documentário é possível identificar alguns fatores, que em conjunção levam a estes resultados positivos: universalidade no acesso ao ensino, formação elevada dos professores, respeito social e valorização dos profissionais da educação, inserção da educação nos valores culturais, engajamento, respeito à diversidade e acompanhamento por parte da família.
Já do ponto de vista de uma epistemologia da educação, destaca uma concepção distinta do que é conhecimento e, portanto, de como este deve ser trabalhado junto aos alunos. Segundo a secretária de Estado da Educação, o “currículo não é sobre o que se ensina. É sobre o que os alunos devem aprender. Ele define as capacidades e habilidades que os estudantes devem ter quando terminarem seus estudos”.
Portanto, ao contrário do que é nossa prática mais familiar, estudar não significa acumular, quase que indefinidamente informações enciclopédicas, assistir a horas e mais horas de aula dominadas por um professor. Não significa atender à primazia da prova, calcada na memorização e na atemorização, como elemento motivador.
Por outro lado, pensar em menos tempo na escola e em sala de aula pode nos evocar as pedagogias não- diretivas, baseadas em uma concepção idealista do conhecimento. Nela, o aluno aluno já possui saberes dentro de si e somente é orientado a sua (re)descoberta por um professor facilitador, embora com o mínimo intervenção possível.
Pelo contrário, o sucesso do sistema finlandês aponta para uma pedagogia relacional, segundo o termo utilizado pelo professor Fernando Becker, onde o conhecimento que o aluno “construiu até hoje em sua vida serve de patamar para continuar a construir e que alguma porta abrir-se-á para o novo conhecimento – é só questão de descobri-la: ele descobre isto por construção”. E, lógico, para um repensar de nossas próprias práticas.
Leia o texto de Fernando Becker:
Agradeço a meu aluno Daniel Jacinto, da Licenciatura em Ciências Sociais da UFPE pela indicação desta informação.