“Colocar a mão na massa” para conhecer os limites e potenciais da IA na Educação
A súbita explosão do uso público de Inteligência Artificial generativas tem colocado a nós, educadores diante de dilemas, incluindo o temor de que o trabalho docente seja substituído pela máquina. Porém, ao mesmo tempo, o aspecto quase mágico do ChatGPT & concorrentes geram uma curiosidade de provar, que defendemos, pode ser uma experimentação pedagógica.
Publicado originalmente em IAEdPraxis: Caminhos Inteligentes para a Educação, em 13 de junho de 2024.
O que tenho defendido, como forma de evitar polos opostos de “tecnofilia ingênua” ou “tecnofobia recalcitrante” é experimentar. Testar limites, avaliar possibilidades, com nosso conhecimento de sala de aula, de contextos educacionais reais.
Vejo esta fase de experimentação pedagógica necessária, diria até obrigatória. Apesar de toda a expectativa criada em torno da IA, existem muitas dúvidas e incertezas quanto ao seu real impacto para o ensino e a aprendizagem.
Também é importante que sejamos nós, ao contrário de um político ou de um empresário da tecnologia, que percebamos as reais limitações dessas ferramentas.
Um exemplo, até que ponto uma IA é capaz de produzir um material didático consistente, sem erros e engajador? Quanto este conteúdo supera o “basicão”, estabelece conexões com outros conhecimentos?
O lado positivo é que neste momento histórico temos acesso à tecnologia. A cada dia, a competição entre as empresas de IA remove barreiras. Precisamos colocar a “mãos na massa”. Somente assim poderemos ter possibilidade de ter voz para participar de uma tecnológica acrítica, mandada institucional e economicamente.
E quando falo de experimentação, também me refiro a algo mais despretensioso, lúdico, divertido. Prompts que podem beirar o nonsense, por exemplo, que podem ajudar a mostrar as (in)capacidades da IA generativas.
Exemplificando, quando pedi uma análise da letra de “Atirei o pau no gato” utilizando referencial de Foucault percebi que o ChatGPT é um “gerador de lero-lero”:
A canção, ao refletir práticas culturais que envolvem a violência e o controle, pode ser entendida como parte dos mecanismos biopolíticos que moldam comportamentos coletivos, definindo normas de interação social e de tratamento dos seres vivos. Assim, práticas culturais aparentemente inocentes podem perpetuar relações de poder e normas sociais que legitimam a violência e a dominação
Já quando a ferramenta de criação de imagens da Google começou a alucinar com imagens demasiadamente diversas, testei o viés de gênero junto com os alunos de graduação. Escrevemos os prompts em inglês, para ter neutralidade, sem nenhuma outra indicação. O resultado foram físicas nucleares, pilotas de avião, soldadas. Não sei se era a proximidade do Dia Internacional das Mulheres mas ficamos com a impressão de viés reverso, se é que isto existe.
Mais recentemente, coloquei à prova a capacidade criativa do ChatGPT e do Claude, desafiando-os a criarem um microconto distópico que incluísse a mítica criatura Sucupira.
Mas, então quer dizer que nunca devo usar texto e imagens GPT? Ele não sabe/não entende realmente do que está falando?
Claro que não. Em muitos contextos e situações é possível usar a IA para a geração de texto coeso, com sentido, teoricamente fundado.
Mas é preciso saber como extrair essa capacidade da máquina; algo que começa por entender sua natureza e seu operação.
E para compreendê-las, convém praticar a experimentação pedagógica.