Imagine que você está prestes a realizar seu grande sonho; o momento finalmente chegou e você logo estará no mestrado, um futuro pesquisador. Ou então você já está na academia há algum tempo e finalmente surgiu aquela tão sonhada vaga de emprego como professor universitário.
Você junta todos seus documentos, currículo, comprovantes, uma montanha de papéis. Faz a inscrição. Mas passado alguns dias, ao conferir os resultados, depara-se com “inscrição indeferida”. Para utilizar uma expressão do esporte, você queimou a largada. Nem sequer estará na competição.
Não se trata de uma situação ficticía, ela ocorre e ocorre muito. Seja em concursos públicos ou em processos seletivos de pós-graduação, especialização, mestrado e doutorado, a primeira etapa geralmente é a chamada homologação da inscrição. Nela uma banca avaliará se você está cumprindo todos os requisitos e exigências do edital que está chamando estas vagas, em outras palavras, se você está apto a participar da seleção. E frequentemente o resultado é que a inscrição é negada, “indeferida” na terminologia burocrática, por erro do próprio candidato.
“Mas era só um detalhe!”, “Não dá para aliviar?”, o reprovado logo argumentará. A resposta, objetiva e direta é um não. Num processo seletivo de caráter público, em moldes republicanos, todas condições são exigidas de forma igualitária a todos candidatos para que a competição ocorra em nível de igualdade. Portanto, é obrigação da banca indeferir uma inscrição que não atenda a algum item estipulado pelas regras. É mais: se a banca não negar, todo o processo seletivo estará sob risco de ser cancelado, pois foi concedida uma vantagem indevida a um candidato.
Alguns dos erros podem parecer incríveis demais ou mesmo absurdos, ao irem contra o mínimo de bom senso que se espera de um candidato. Mas acreditem, fui testemunha deles, são ocorrências da vida real. Então, começando pelos mais simples e chegando a alguns casos que geram debates e inclusive ações judiciais, vejamos alguns erros básicos na inscrição de um processo seletivo:
1. Não pagar a taxa de inscrição
É praxe que a instituição cobre uma taxa de inscrição dos candidatos. Pois bem, esta é uma condição fundamental para participação e por este motivo o edital sempre a exige o comprovante de pagamento. Ora, se este comprovante não estiver entre os documentos apresentados, a banca entenderá que a taxa não foi paga!
2. Apresentar o comprovante de pagamento da taxa com CPF diferente
Relacionado com o ponto anterior, a comprovação precisa estabelecer uma relação direta entre o candidato e quem pagou a taxa. Esta identificação do pagador é possível pois nas instituições públicas federais através da Guia de Recolhimento da União (GRU) onde são inseridos vários dados relativos à taxa, incluindo o CPF do pagador. Ora, se o CPF que constar da taxa for diferente daquele do candidato, este comprovante poderia ser de qualquer pessoa! Inscrição indeferida, portanto.
3. Apresentar comprovante de residência com um nome diferente do seu
Mais uma documentação básica, os editais pedem um comprovante de residência. Não sei bem o por quê, mas pedem. Daí, seguindo a mesma lógica anterior, o comprovante de residência deve estar em nome do candidato e de mais ninguém! Mas e se suas contas de telefone, água ou gás estiverem em nome de outra pessoa? Não servem, apresente o que for, mas que esteja em seu nome.
4. Não autenticar a cópia de um documento
Na maioria dos processos seletivos os documentos básicos ”“ e importantes ”“ como CPF, RG e diplomas precisam ser autenticados. Se você fizer sua inscrição presencialmente, isso não será problema, pois um funcionário público tem fé de ofício e está legitimado legalmente para reconhecer a autenticar a cópia de um documento original. Mas se você estiver realizando a inscrição por correspondência, então seu material deverá ser autenticado em cartório. Sem isso, a banca poderia estar diante de um título falsificado, por exemplo. E por este motivo, a inscrição acaba indeferida.
5. Preencher incorretamente a ficha de inscrição
Curso, nível, cargo, área do concurso, departamento ao qual se está candidatando, estas são informações a serem preenchidas no momento da inscrição. Pode parecer incrível, mas houve casos onde na ficha constava a inscrição para a vaga ofertada por outro departamento. Pode ser que o candidato estivesse prestando mais de um concurso ou simplesmente tenha errado a porta e entrado no departamento errado.
6. Não formalizar a inscrição
Nestes processos, ao fazer a inscrição pessoalmente não basta “largar” todos os documentos e comprovantes em cima de uma mesa e considerar-se inscrito. O normal é que um funcionário lhe receba, confira se todos documentos estão presentes e os autentique caso seja necessário. Ao final você receberá um comprovante da inscrição. Caso se encontre com uma fila de candidatos, será preciso esperar.
7. Esquecer-se de apresentar um documento obrigatório
Outro ponto recorrente para o indeferimento de uma inscrição é a falta de alguma documentação considerada obrigatória pelo edital. Pode ser qualquer um dos já citados, como o comprovante de pagamento da taxa ou comprovante de residência. Mas também ocorre de faltar material que inclusive será objeto de avaliação. Como exemplo recente, um candidato não incluiu seu memorial acadêmico ”“ item que geralmente não é solicitado em concursos ”“ e foi desclassificado.
8. Não atender à designação do título exigido
Chegamos a um ponto mais espinhoso, que é a equivalência entre a designação de um título num diploma e o pré-requisitio exigido. Como exemplo, se o concurso exige “Doutor em Educação” e seu título é “Doutor em Formação Humana” sua inscrição tem bases para ser negada. A diferença entre “Licenciatura” e “Bacharelado” é uma situação comum em algumas áreas do conhecimento.
9. Confundir o currículo com a comprovação do currículo (e vice-versa)
No caso da experiência profissional e da produção bibliográfica, todo edital exige que elas sejam comprovadas. Mas comprovar não significa apenas colocar esta realização em seu currículo, em uma grande lista. Comprovar significa apresentar um diploma, um certificado de participação em evento e, no caso de publicações, a própria publicação. Ou pelo menos parte dela, como a capa, contracapa, ficha-catalográfica, sumário e primeira página do texto, caso for comprovar um capítulo de livro, por exemplo. Neste último ponto, se não estiver especificado em edital, busque orientação para saber se é necessário anexar a publicação completa ou se a primeira página é suficiente.
10. Não atender ao formato de currículo exigido pelo edital
Outro ponto polêmico e que já levou a discussões ontológicas e etimológicas acerca do que se entende por “currículo”. Acontece que alguns editais especificam um formato próprio de currículo, seguindo uma ordem de itens (formação acadêmica, experiência profissional, produção bibliográfica, etc.) que visa facilitar o trabalho da banca. Mas isso se contrapõe ao fato de que na atualidade todos acadêmicos brasileiros organizam e gerenciam seu currículo através da plataforma Lattes. Ao verem que o edital pede o currículo, o que fazem? Geram uma impressão do Lattes, o que convenhamos, é prático e rápido. Contudo, não foi este formato de currículo solicitado. Problemas a frente”¦
Como esses erros poderiam ter sido evitados?
Para evitar estes erros básicos, consdidere as cinco recomendações a seguir:
1. Ler, reler, e “re-reler” o edital
Na perspectiva das instituições “republicanas”, um edital pode ser considerado o “rei”. Soa paradoxal, mas isto significa que o edital dever ser cumprido à risca, sem exceções ou concessões, da forma mais literal possível. É justamente a clareza do edital, com a exposição dos critérios de avaliação e todas exigências mais, que permite uma seleção objetiva e justa. Portanto, leia, leia muitas vezes o edital. Familiarize-se com todas as exigências, saiba-as de cor, tome notas.
2. Seguir um checklist
Toda pessoa bem organizada adora uma lista. Para evitar esquecer algum documento ou exigência, faça uma lista de tudo o que você precisa organizar e da documentação necessária a partir da leitura do edital . Assim que um ponto da lista for cumprido, risque-o. É simples assim.
3. Realizar uma “auditoria” externa
Por mais cuidados que tenhamos, nossa mente pregar peça. Trabalhar intensamente numa atividade leva muitas vezes a uma “cegueira”. Por este motivo, peça ajuda de outra pessoa para conferir todos os elementos de sua inscrição.
4. Estar sempre em estado de preparação
Se você está participando de um processo seletivo, seja para realizar uma pós-graduação ou para almejar um posto de trabalho, isto faz parte de seu projeto de vida. E sendo assim, você deverá estar preparado o tempo todo Afinal, nunca se sabe quando surgirá uma oportunidade. Por este motivo, ter o currículo atualizado, os diplomas e certificados organizados e os documentos pessoais bem localizados evitará com que você seja pego desprevenido e caia num dos erros acima.
5. Buscar orientação
Mesmo com o edital ”“ e apesar dele ”“ podem surgir dúvidas. Não arrisque-se, não dê por certo o que você acha que compreendeu. Pergunte! É obrigação de quem está promovendo o processo seletivo orientar e esclarecer os candidatos.
Para concluir, estes foram erros básicos observados na primeira etapa de um processo seletivo, que é a homologação de uma inscrição. Com atenção, organização e orientação é possível evitá-los. Mas logicamente novos desafios virão, na forma de prova teórica, prova didática, defesa de projeto. Isso é assunto para outros posts; muitos outros posts na verdade.
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