Se você já passou pela experiência de realizar um trabalho de conclusão de curso, como uma monografia, dissertação ou tese, certamente terá muito que falar a respeito de seu orientador.
Contudo, entre conquistas e possivelmente muitos desacertos, peço que você se coloque do outro lado. A verdade é que ninguém aprende como orientar, pelo menos do ponto de vista formal.
Na falta de uma formação estruturada e sistematizada, o que ocorre frequentemente é a aprendizagem baseada em modelos. Em outras palavras, aprendemos a orientar imitando a atuação de nossos próprios mestres.
Ou daqueles que não foram/são diretamente nossos orientadores, mas cujo trabalho conhecemos e que nos dão “pistas” de como atuar.
Precisam ser reais? Não necessariamente.
A relação que se estabelece entre orientador e orientando é bastante próxima daquela de professor-aluno, mestre-pupilo. E felizmente temos na ficção inúmeras representações deste relacionamento.
Talvez longe de ser um tipo ideal, como provoco no título deste post, os orientadores que vemos na cultura popular podem nos ensinar mais sobre o processo e como desempenhar este papel.
Yoda
Um dos personagens mais emblemáticos da saga Guerra nas Estrelas, o sábio e verde mestre Jedi tem lugar em nossa memória pelo treinamento dado ao herói Luke Skywalker.
Alternando entre o exigente, levando seu pupilo a situações físicas e mentais extremas, e o ternamente carinhoso, ele mostra que a orientação é um processo que envolve sacrifícios, mas que também é um relacionamento.
Outra característica do baixinho é nunca responder diretamente à s perguntas que lhe são feitas, mas incentivar que o aprendiz encontre sua própria resposta.
Já sua forma de falar, invertendo a ordem sujeito-verbo-objeto não chega a ser incompreensível mas deixa suas falas um tanto desconcertantes. Como muitos acadêmicos, eu diria.
Finalmente, sua habilidade em aparecer como espírito, depois de sua “morte”, ao se unir com a Força, é um ponto positivo para seus orientandos. Eles recebem sua ajuda, mesmo que inesperada, em momentos difíceis.
Veredito: focado em desempenhos e resultados, rigoroso, valoriza relações humanas, baseia-se na epistemologia construtivista. Embora desapareça, reaparece em situações de dificuldade. Conversar com ele demanda atenção, sua forma de se expressar pode ser confusa.
Obi-Wan Kenobi
Outro personagem de Guerra nas Estrelas, na verdade Obi-Wan foi o primeiro tutor de Luke. Participativo, envolve-se no esforço, trabalhando lado a lado com o aluno.
Mais formal, seu estilo de comunicação é preciso, elegante. Praticamente um sir, como foi Alec Guiness, seu intérprete.
Assim como Yoda, reaparece em épocas que exigem sua atenção, para dar conselhos breves, mas fundamentais.
Veredito: exigente, considera a orientação um esforço mútuo, possui boa comunicação. Pode ser inacessível em muitos momentos, mas retorna quando é essencial.
Sr. Miyagi
Um mestre não reconhecido das artes marciais, este ancião japonês ajuda o perseguido Daniel a descobrir suas habilidades físicas e emocionais em Karate Kid, mais um filme marcante da década de 1980.
Quase faz com que o pupilo desista da orientação, ao exigir trabalhos repetitivos como lustrar carros e pintar cercas. Contudo, este é seu método, para que Daniel desenvolva memória muscular e transfira os gestos para a luta do caratê; realizando um paralelo, o Sr. Miyagi investe na aprendizagem de habilidades de pesquisa básicas, para logo serem aplicadas.
Na boa tradição oriental, sua concepção de treinamento desenvolve não somente o corpo, mas a mente.
Por seu próprio passado, não suporta injustiças e não hesita em entrar na briga, para proteger o aluno.
Frequentemente faz uso de frases feitas como forma de comunicar conceitos e de motivar.
Veredito: meticuloso, adepto do trabalho duro e de princípios behavioristas da aprendizagem. Ao mesmo tempo, protetor do aluno e buscando a autonomia deste. Inspira sabedoria com frases de efeito.
Mestre dos Magos
A presença do personagem do desenho que marcou uma geração, A Caverna do Dragão, pode ser considerada polêmica nesta listam ao ponto de ter se tornado meme no humor acadêmico.
Apesar de ser uma espécie de guia para os jovens perdidos no Reino, ajudando-os em seu retorno à casa, existe a interpretação de que na verdade ele seria o próprio Vingador, impedindo esta tarefa.
Suas falas e conselhos são tão sujeitas a interpretação, entre o vago e o obscuro, que geralmente não contribuem para a ação dos garotos.
Outras vezes, coloca-os diretamente em confronto com seus inimigos, de forma que utilizada o esforço deles para seus próprios objetivos.
Ao contrário de Yoda e Obi-Wan, desaparece nos momentos de maior aperto.
Veredito: com estilo de comunicação misterioso, torna o orientando responsável por encontrar suas próprias respostas. Nunca está presente nas dificuldades. Má conduta ética, apropriando-se de trabalho dos orientandos.
Você conhece algum orientador/tutor/mestre da ficção que possa ser analisado em termos de habilidades de orientação? Concorda com minha análise? Tem algo a acrescentar ou pontuar? Então comentada aí embaixo.