Reflexão do cartunista Cristiano Onofore, sobre a relação entre escola e prisão, entre marginalidade e mudança social, remetendo (em minha percepção) a Ivan Illich e às teses da desescolarização.
Nesses meus poucos (mas loucos) oito anos de vivência em sala de aula como professor (e como aluno também) eu aprendi uma coisa: a educação no Brasil é, infelizmente, um sistema falido nas mãos do capital. Eu obviamente não sou a favor da redução da maioridade penal, mas tem me incomodado um pouco perceber o quanto a tal EDUCAÇÃO é colocada em argumentos como a salvação, a antítese da prisão.
Lembremos que a escola, em seu modelo de funcionamento atual, seja privada ou pública, também tem performado um cárcere, e isso já faz tempo.
A marginalidade é um processo que vai muito além das falhas das escolas, devemos pegar essa nossa energia, tirá-la da ideia vaga de “Educação é a solução” e direcioná-la às críticas que temos aos empresários que transformam as escolas e faculdades em corporações, ao ministério da educação que trata o professor como lixo e diversos outros fatores que provam que a educação AINDA NÃO É A SOLUÇÃO. Seria ótimo se fosse simples assim, mas todxs nós sabemos que não é.
A educação PODE VIR A SER uma solução, mas essa que nós temos aí hoje? Não, essa não.
Não podemos esquecer que a fábrica que constrói as grades da prisão é a mesma que constrói as grades da escola.
Não faço parte da Educação, mas tenho adolescente em casa, e sei o quanto é difícil essa idade, o que mais tenho notado é o descaso tanto com os alunos e também com os pais, bem sei que muitas das nossas crianças são jogadas em escolas como se fossem obrigação dos professore lhe darem educação, não é bem assim, essa educação deveria ser retiradas dos pais.
Porém meu objetivo de resposta é será que poderia ser colocado em escolas voluntários para ajudar na secretária, nos corredores como é feito em hospitais, asilos enfim no lugar que o déficit de profissionais é pequeno? Causaria com isso o envolvimento dos pais no âmbito escola, saberiam que não é fácil ser aluno, tanto pouco pais e muito menos um profissional dessa área.
A grade na escola ao meu ver apenas afasta as pessoas, deixa um ambiente além de feio agressivo, parece mais grades em instituições de menores infratores,parece uma forma de acostumá-los a viverem presos.
Olá Sueli,
obrigado pelo interesse e comentário!
Realmente, muitas escolas acabam parecendo prisões, por conta das grades que supostamente devem proteger. Comentei uma charge neste sentido (http://www.marcelo.sabbatini.com/grades-prisao-grades-escola/) e estou para publicar outra foto que também passa essa ideia. De fato, o entendimento da escola como um sistema de restrição à liberdade tem seu destaque com Foucault, em vigiar e punir.
Mas esta foto em questão não trata disso. Ela mostra um portão do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco trancado, pelos próprios estudantes, que realizaram uma ocupação em protesto contra medidas políticas, no final do ano passado. As ocupações foram muito criticadas, mas minha interpretação é que o verdadeiro “trancamento” ocorrerá com o desmonte da educação pública.
Abraço, Marcelo Sabbatini