Quando vi esta maquete do como era a cidade mexicana de Puebla no século XVII, imediatamente me lembrei de um capítulo de “Raízes do Brasil”, o livro clássico de Sérgio Buarque de Holanda que tantos debates tem originado em nossos dias sobre o que é “ser brasileiro nos dias atuais.
O capítulo em questão é titulado de “O semeador e o ladrilhador” e nele o historiador compara o modelo civilizatório da colonização portuguesa e aquele realizado pelos espanhóis, no que viria a se tornar o Brasil. Seu argumento é o seguinte: enquanto os portugueses privilegiaram “feitorizar uma riqueza fácil e quase ao alcance da mão”, utilizando um modelo exploratório de agricultura e com a fundação de poucas e esparsas cidades no litoral, os espanhóis buscaram “construir, planejar ou plantar alicerces”, com centros urbanos que estabeleceram as fronteiras econômicas e funcionavam como centros de poder através dos quais a Metrópole exercia seu domínio político, econômico e militar.
Neste sentido, a construção de cidades espanholas no novo continente obedeceu um “zelo minucioso e previdente”:
Já a primeira vista, o próprio traçado dos centros urbanos na América espanhola denuncia o esforço determinado de vencer e retificar a fantasia caprichosa da paisagem agreste: é um ato definido da vontade humana. As ruas não se deixam modelar pela sinuosidade e pelas asperezas do solo; impõ-lhes antes o acento voluntário da linha reta. [”¦] O traço retilíneo em que se exprime a direção da vontade a um fim previsto e eleito, manifesta bem essa deliberação. E não é por acaso que ele impera decididamente em todas essas cidades espanholas, as primeiras cidades “abstratas” que edificaram europeus em nosso continente (p. 114-115).
E como palavras e imagens se complementam, mais do que se substituem, eis a maquete da cidade colonial de Puebla que me trouxe de volta à mente este pensamento:
Registro da visita realizada por ocasião do XII Congresso da Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação (ALAIC), realizado em 2016.
Referência
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 27 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.