
Imagem: Marcelo Sabbatini / Leonardo AI
Publicado originalmente em IAEdPraxis: Caminhos Inteligentes para a Educação, em 26 de setembro de 2024.
Em novembro de 2022, vimos o início a um cataclismo especulativo sobre o papel e futuros impactos da Inteligência Artificial em nossa sociedade, com a ocasião do lançamento do ChatGPT.
Entretanto, de lá para cá, diversas outras tecnologias surgiram ou ganharam espaço, sinalizando para oportunidades tanto no ensino quanto na pesquisa. Apesar de seu nome amplamente reconhecido, hoje temos ferramentas que possuem uso inclusive conceitualmente distinto ao que nosso amigo Gepetê proporciona e que podem ser úteis para educadores. Vamos conhecê-las?
Agentes conversacionais (chatbots de uso geral)
Como sistemas de IA projetados para simular conversas humanas, os chatbots têm sido a “cara” da Inteligência Artificial Generativa e dos LMMs (grandes modelos de linguagem). Diferentemente de outras tecnologias de IA, como são os sistemas especialistas, os agentes conversacionais se mostram eficazes para os mais diversos usos e aplicações.
Logicamente, como pioneiro e como plataforma tecnológica de maior crescimento da história (100 milhões de usuários em apenas dois meses após o lançamento) baseado num modelo de uso gratuito, o ChatGPT se tornou sinônimo de chatbot. Assim como o piloto e a xerox, por um bom tempo o nome do aplicativo foi utilizado como metonímia, em substituição a toda uma classe de produtos.

Posso perceber a dominação do ChatGPT em seu conceito nos próprios títulos de palestras e oficinas que elaborei na época
Contudo, conforme mais e mais startups e grandes empresas tradicionais do ramo tecnológico dirigiram seus olhares para o prometido filão da IA, outros chatbots entraram em cena. Através dos rankings especializados e, inclusive de nossa empiria do dia-a-dia, mesmo o modelo mais avançado do ChatGPT fica atrás de alguns correntes.
Nessa perspectiva, destacamos dois substitutos que trazem bons resultados nas aplicações mais comuns da IA na Educação.
Claude

A janela é similar a do ChatGPT, mas os resultados…
Desenvolvido pela empresa Anthropic, esta “inteligência” tem chamado uma e outra vez a atenção de todos, devido a suas capacidades. O modelo Sonnet 3.5, que é inclusive o utilizado no plano de uso gratuito, desbancou o reinado do ChatGPT Plus. Além de um foco em segurança e ética propalado pela empresa, os usuários do Claude também relatam as seguintes características:
- Interpretação contextual, com habilidade em entender e manter o contexto em conversas mais longas e complexas, o que permite uma interação mais natural e coerente.
- Respostas mais concisas e diretas, evitando repetições e adjetivações desnecessárias.
- Melhor compreensão de instruções, mesmo que complexas, facilitando seu uso em aplicações práticas, como programação, redação e resolução de problemas.
Recentemente o Claude foi disponibilizado no Brasil, após passar um bom tempo com o impedimento de criações de contas de nosso país. Além do já comentado uso gratuito, o chatbot conta com um plano profissional que dá acesso a um modelo mais elaborado (Opus) e outro mais rápido (Baiku), além de prioridade em momentos de alta demanda.
Em poucas palavras, e a partir de minha experiência pessoal: é o melhor chatbot existente, o de preferência. Embora não seja infalível, entrega resultados bastante consistentes.
Gemini 1.5
https://aistudio.google.com/app/prompts/new_chat
Não, não se trata do Gemini de uso amplo que a empresa Google oferece, em substituição do Bard. Este é um modelo mais avançado, acessado pelo AI studio, voltado para experimentação, com acesso gratuito.
Embora sua interface possa intimidar, uma vez que possui uma diversidade de comandos e opções voltadas para usuários de nível técnico, seu uso é similar ao do ChatGPT. Mas atenção, o aplicativo não possui um histórico de conversa automatizado, como os demais; é necessário gravar cada uma delas.
No mais, o diferencial do Gemini 1.5 é sua imensa “janela de tokens”. Em outras palavras, esta é a quantidade de informação de contexto que ele pode utilizar para realizar uma determinada tarefa. No caso, esta janela é de 1 milhão de tokens, o dobro disso no modelo PRO. O que isto significa? Que é possível enviar entre cinco a dez livros inteiros pela janela de chat, numa estimativa do próprio.

Opções de configuração, entre eles o modelo. Notar o número de tokens.
Em tempo
No momento de publicação desta edição, a OpenAI tornou público seu novo modelo, GPT-4o1. O destaque é para sua capacidade de raciocínio complexo de propósito geral através de seu treinamento em Cadeia de Pensamento (Chain of Thought – CoT, tema de uma futura edição da newsletter). Em outras palavras, o agente é capaz de raciocinar, pensando nos passos para chegar a sua resposta e potencialmente conseguindo resolver problemas de grande complexidade.
Mecanismos de busca com IA
Além dos agentes conversacionais, os mecanismos de busca com IA incorporada têm evoluído para além dos tradicionais. Eles oferecem respostas mais precisas e contextualizadas, otimizando a busca por informações de qualquer natureza, incluindo a acadêmica.
You.com
Integrando buscador com processamento por IA, o You.com vai além da busca tradicional ao integrar-se com diversos aplicativos e serviços, como redes sociais, plataformas de streaming e comércio eletrônico.
As buscas atendem a diferentes perfis de uso, como auto-explicativo “Pesquisa”, o “Gênio”, indicado para resolução de problemas em múltiplos passos e o “Artigo de Pesquisa Pro”, para resumo e síntese de trabalhos de pesquisa.
Além disso, a ferramenta prioriza a privacidade, com uma política rigorosa que promete não rastrear a atividade dos usuários ou vender dados para anunciantes e oferece uma integração com IA para fornecer resultados mais personalizados.
Possui uma versão pro, com possibilidade de envio de mais arquivos, janela de tokens maior e acesso a modelos de ponta como o Sonnet 3.5 e o ChatGPT-o.
Perplexity
Quem nunca sofreu com as alucinações do ChatGPT? Uma característica marcante dos agentes conversacionais de IA generativa, as informações equivocadas e as referências “inventadas” diminuem a eficácia destes modelos, ao ponto de inviabilizá-los para usos sem a intervenção humana.
O aplicativo de busca Perplexity busca justamente um diferencial neste sentido, ao se conectar à Internet para proporcionar respostas precisas e citar fontes confiáveis. Este acesso é realizado em tempo real, não tendo portanto um limite de conhecimento com base numa data de corte.
Ao citar as páginas Web de onde tirou as informações, aumenta a transparência do processo e facilita a verificação por parte do usuário.
Ao realizar uma busca também é possível escolher o “foco”, destacando o “acadêmico” para pesquisas publicadas, o “escrita” para geração de texto e o “social” para busca de discussões e opiniões.
Associado a um foco em precisão e respostas concisas, torna-se uma ferramenta particularmente interessante para uso nas áreas acadêmicas e de pesquisa.
O uso é gratuito com um número ilimitado de buscas gratuitas e um limite de cinco buscas no modo pro, voltadas para “respostas mais longas para perguntas complexas”. A versão paga, por outro lado, permite a escolha do modelo de IA a ser utilizado, além da capacidade de uso maior.
Ferramentas Acadêmicas
No campo da pesquisa acadêmica, encontramos ferramentas específicas que vão mais além do uso genérico dos chatbots. Especificamente, a revisão de literatura é um desafio aguçado pela crescente quantidade de artigos de pesquisa disponíveis a cada ano. Assim, encontrar, revisar e sistematizar dados e artigos científicos com o auxílio da IA promete agilizar o trabalho de professores e pesquisadores.
Research Rabbit
Anunciada como “assistente de pesquisa”, esta ferramenta tem como única funcionalidade a revisão de literatura. A partir de um tema ou de um artigo específico, o aplicativo encontra trabalhos relacionados, sugerindo aqueles mais relevantes com base nos interesses de pesquisa do usuário. Alternativamente, o usuário pode enviar arquivos PDF, cujos dados são extraídos e analisados.
Tem como diferencial a descoberta visual, permitindo aos usuários explorar artigos científicos, redes de autores e coleções compartilhadas de maneira intuitiva. A visualização das conexões entre diferentes trabalhos e autores pode ser particularmente útil para identificar tendências e lacunas na pesquisa.

Mapeando a produção científica com o Research Rabbit
A promessa é de que seus usuários possam revisar rapidamente grandes volumes de literatura acadêmica, o que é obtido través de algoritmos de IA que sintetizam o conteúdo. Com isso, eles poderiam se concentrar mais na análise e interpretação dos dados, em vez de gastar tempo excessivo na coleta de informações.
Finalmente, possui integração com o gerenciador de citações Zotero, estabelecendo uma ponte com a escrita acadêmica.
Totalmente gratuito, com a possibilidade de doações para os desenvolvedores.
Elicit
Assim como a anterior, a plataforma Elicit tem como foco a revisão de literatura, encontrando artigos que respondem a perguntas específicas. Também mapeia conceitos científicos, relacionando-os com o corpo de conhecimento de uma determinada área.
Porém, acrescenta a possibilidade de “fazer um chat” com cada artigo, isto é, de estabelecer uma conversação interativa na qual o usuário pode explorar o texto em profundidade. Este exame é realizado através de parâmetros pré-definidos como a exemplo do sumário, principais achados, lacunas existentes, hipóteses testadas, pesquisas futuras, ou de perguntas abertas.
A organização dos textos em “cadernos”, a possibilidade de enviar artigos e a importação de bases do Zotero também são funcionalidades úteis.
Possui além do plano gratuito, dois planos com custo. Além do volume de uso, o “caminho de volta”, isto é, a exportação dos dados bibliográficos em formatos estruturados para utilização em outras programas é uma funcionalidade paga.
Scispace
Esta plataforma avançada possui as mesmas funcionalidades que a Elicit e vai mais além. Integrando diversas ferramentas, o aplicativo vai mais além da revisão de literatura para entrar a fundo no processo de escrita.
De início, um “Parafraseador” é autoexplicativo para a geração de texto acadêmico, sendo complementado por um “Gerador de Citações”. Em ambos os casos o texto pode ser expandido a partir das sugestões do “Redator IA”. E logo, um “Detector IA” serve para a avaliação de textos em relação a conteúdo gerado por Inteligência Artificial, o que pode soar um tanto contraditório.
Finalmente, também apresenta uma inovação, com a ferramenta para transformar “PDFs de pesquisa estáticos em vídeos envolventes com narração, legendas e transições”, possibilidade particularmente útil para a disseminação científica.
Concluindo
O avanço da IA mais além do ChatGPT, tem oferecido uma variedade de ferramentas que podem enriquecer o trabalho dos educadores e pesquisadores. Desde os chatbots concorrentes, com suas particularidades, passando pelas ferramentas específicas para a pesquisa, os benefícios e possibilidades para a produção de conhecimento acadêmico estão lançadas. Resta-nos saber utilizá-las bem.