Todo mundo conhece a situação: chega uma mensagem no grupo do trabalho. Informação importante, que precisa ser comunicada. E então começam as respostas: “Ciente”, “Ok”, “Recebido”. Em poucos minutos, uma mensagem se multiplica por vinte, criando um festival de confirmações que ninguém pediu. E que, sinceramente, ninguém precisa.
A irrelevância do óbvio
Começando pelo mais básico: na maioria dos casos, confirmar que você leu uma mensagem é irrelevante. Quando alguém avisa que “a reunião foi transferida para quinta-feira” ou que “um novo edital de pesquisa foi publicado”, a informação está dada. Pronto, acabou. Sua confirmação individual de que processou a informação não altera o curso dos acontecimentos.
Claro, existem situações onde a confirmação de recebimento é necessária. É para isso que existe o conceito de RSVP (*Répondez s’il vous plaît*), usado em convites formais, quando o organizador precisa saber quantas pessoas comparecerão.
Em outras situações, o retorno, elemento do processo comunicacional é necessário para fechar o ciclo de compreensão entre emissor e receptor. Mas tampouco é o caso de avisos que são unidirecionais.
O ruído na linha
Claude Shannon e Warren Weaver, pioneiros da Teoria da Informação, evidenciaram que comunicação eficaz depende de um canal aberto entre emissor e receptor. Nesse sentido, uma interferência desnecessária pode ser considerada um “ruído”, degradando a qualidade da comunicação.

Quando dezenas de pessoas respondem “ciente” a uma única mensagem, estamos presenciando o ruído informacional multiplicado. Imaginemos a analogia no mundo físico: alguém faz um comunicado oral em uma reunião e, ao final, cada uma das vinte pessoas presentes levanta a mão para dizer “eu ouvi”.
Mas o digital amplifica o potencial de ruído. Exemplificando pelo absurdo, se cada “ciente” gerasse sua própria rodada de “ciente de sua ciência”, teríamos uma progressão exponencial de mensagens vazias.
Os “cientes” têm um resultado prático evidente. O conteúdo útil é enterrado sob uma avalanche de formalismo inócuo, o **sinal** (a mensagem importante) se perde em meio ao ruído.
Buscas posteriores por informações específicas são dificultadas. A linha do tempo é poluída com confirmações que não informam nada: pessoas leram mensagens que estavam destinadas a ser lidas.
O servilismo zeloso da Era Digital
Domenico De Masi, sociólogo italiano, cunhou o termo “servilismo zeloso” para descrever comportamentos que simulam dedicação e atenção, mas que na prática não passam de uma performance para sinalizar presença e participação. Responder “ciente” se encaixa neste comportamento, ainda mais quando enviado num sábado à noite.
O “ciente” virou nossa versão digital do cumprimento de um protocolo vazio, uma genuflexão eletrônica que fazemos não porque serve para alguma coisa, mas porque parece educado.
Sem ofensa, mas…
Se você se reconheceu nesta descrição, por favor, não se sinta ofendido. A adoção de novas linguagens – e o ambiente digital é uma linguagem relativamente nova – é um processo gradual, marcado por tentativas e erros.
Escrevo este texto para chamar atenção para o fato de que precisamos desenvolver consciência sobre quando essa resposta é necessária (raramente) e quando é apenas ruído (na maioria das vezes). Como na comunicação presencial, precisamos pensar em uma etiqueta digital que priorize eficiência e nos poupe de trabalho.
Em muitos grupos digitais, o silêncio é interpretado corretamente como confirmação de recebimento e de entendimento. Em caso contrário, naturalmente haveria uma pergunta.
O objetivo da comunicação digital é facilitar nossas vidas, não complicá-las com rituais desnecessários. Cada “ciente” a menos é um pequeno passo em direção a uma comunicação mais limpa, eficiente e respeitosa com o tempo de todos.