Marcelo Sabbatini

3 razões para não usar o apud

3 razões para não usar o apud

3 razões para não usar o apudA intenção realmente era ajudar, afinal a escrita acadêmica, com todas suas convenções e regras, tem seus desafios. Porém, o que eu não esperava era me tornar uma referência em apud, pelo menos para os olhos do Google.

No momento que escrevo, meu post elucidativo sobre como usar a citação da citação é o segundo resultado nas buscas pelo termo “apud” e tem trazido muitos internautas para este site.

O post também gerou várias contribuições dos leitores, muitos elogiando (o que deixa qualquer escritor feliz, muito obrigado!) e outros com dúvidas adicionais em relação a como utilizar a citação da citação.

Fazendo bonito no Google

 

Ao responder estes questionamentos, percebi um certo padrão: a melhor solução para o caso em questão era muito simples. Isto é, não utilizar o apud em primeiro lugar!

Quase ao mesmo tempo, ao monitorar como o post estava se comportando nos resultados do mecanismo de busca, também encontrei um texto revelador, publicado numa revista científica. Trata-se de um editorial, com o simples título “Apud”. E nele, Ana Cecília Magtaz e Manoel Tosta Berlinck, da Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, assumem um posicionamento forte: o apud não tem mais lugar na disseminação dos resultados de pesquisa científica.

Baseado na argumentação deles e na minha própria experiência, apresento agora três razões para não usar o apud.

1. A citação da citação revela preguiça por parte do pesquisador

Relembrando o conceito, Magtaz e Berlinck afirmam que o apud somente pode ser “utilizado com muita parcimônia e depois de um genuíno esforço de pesquisa da citação direta”. Ao mesmo tempo, chamam a atenção para o fato da “suposta inacessibilidade do texto citado” ser relativa, uma vez que outro autor teve acesso a ele.

Agora, com exceção daqueles campos do saber onde as fontes de caráter histórico sejam inerentes ao processo de pesquisa, na atualidade grande parte do conhecimento científico está acessível através da publicação eletrônica. A pesquisa de ponta, a mais relevante para uma revisão bibliográfica, está sendo publicada eletronicamente, seja em periódicos, repositórios institucionais ou atas de eventos, tudo em formato digital. Estando mais acessível, não seria justificável então a utilização da citação secundária.

2. A citação da citação sempre implica uma perda

Mesmo ao transcrever literalmente um trecho de uma obra, um autor está interpretando aquele texto. Por que aquele segmento e não outro? Esta citação representa fielmente o pensamento do autor como um todo ou é uma parte relativamente menor, acessória, do trabalho?

Dessa forma, confiar na interpretação do autor que citou, ao invés de recorrer ao original, não somente revela preguiça, mas também pode resultar numa perda de qualidade.

Outro caso de supressão da qualidade diz respeito à  literatura em língua estrangeira. É muito cômodo fazer a citação da citação, para não enfrentar a dificuldade de um outro idioma. Porém, é praticamente consenso dentro das instituições de pesquisa que o domínio da literatura internacional é um pré-requisito para qualquer pesquisador.

3. A citação da citação não é bem vista

Esta terceira razão para não se utilizar o apud é consequência direta das anteriores. Se a citação secundária denota falta de empenho e se ela implica menor credibilidade em relação ao que está sendo afirmado, o resultado geral é negativo, aos olhos de um avaliador.

Como exemplo, em bancas de trabalho de conclusão é relativamente comum escutar dos examinadores a recomendação de buscar os textos originais e de eliminar citações em apud que não sejam necessárias. O trabalho não vai ser reprovado por causa disso, mas como a atividade científica busca sempre a maior precisão possível, a bronca poderia ser evitada.

Porém, o apud poderia ter consequências mais graves. Magtaz e Berlinck concluem seu editorial criticando o “uso licencioso” de citações das citações e sugerindo que os editores e avaliadores de revistas científicas deveriam “coibir este recurso” e estimular a busca das fontes originais.

Então, se seu trabalho corre o risco de ser rejeitado para publicação, é melhor evitar o apud.

Referência

MAGTAZ, Ana Cecília; BERLINCK, Manoel Tosta. Apud. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 13-15, mar. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142010000100001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 14 ago. 2015.

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